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Messaggi Don Orione
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Nella foto: Dom Orione na Argentina
Autore: Flavio Peloso
Pubblicato in: L’Osservatore Romano, 4.3.2000, p.3

Em 1936 havia dois homens da Europa que percorriam Buenos Aires e outras grandes cidades argentinas: eram o filósofo francês Jacques Maritain e o sacerdote italiano Dom Luiz Orione.

DOM ORIONE, JAQUES MARITAIN E A IGREJA ARGENTINA
NA DÉCADA DE 1930


Flavio Peloso
 


Em 1936 havia dois homens da Europa que percorriam Buenos Aires e outras grandes cidades argentinas para encontros, conferências, debates e reuniões das associações católicas: eram o filósofo francês Jacques Maritain e o sacerdote italiano Dom Luiz Orione. Estavam no centro da atenção. Bispos, clero e religiosos, homens de pensamento e da ação do laicato católico pediam a eles idéias e estímulos para ajudar a Igreja argentina a “sair da sacristia”.

Acontecia na Argentina – ligada às influências econômicas e culturais da Inglaterra – o que tinha acontecido com outros povos da América do Sul, mas também da Europa e da mesma Itália: em nações fundamentalmente cristãs, os grupos sociais da política, da cultura e da economia estiveram por muito tempo nas mãos de expoentes de ideologias liberais, maçônicas, anticlericais, que haviam condicionado a religião à igreja ou... à sacristia. Também o proclamado apoio dado à Igreja, na década de 1920, por Ypolito Yrigoyen, logo se revelara somente instrumento ao seu programa nacional de argentinização. O catolicismo argentino, mesmo tendo sido formado eroicamente com o sacrifício de tantos sacerdotes, religiosos e leigos, estava muito fragmentado. Faltava uma verdadeira consciência eclesial de conjunto, era pouco incisivo sobre a cultura e a sociedade.
”A década entre 30 e 40 é o período de passagem rumo à maturidade religiosa do catolicismo argentino” segundo a crítica do historiador J. Carlos Zuretti (Nueva historia ecclesiastica argentina, do Concilio de Trento al Vaticano II, Itinerarium, Buenos Aires, 1972, p. 401).


Após o Congresso Eucarístico Internacional de 1934

O Congresso Eucarístico Internacional de Buenos Aires, de 1934, pode ser considerado quase o ato de nascimento da Igreja Argentina moderna. Mais do que um grande evento, o Congresso Eucarístico foi sobretudo um símbolo. Uma multidão superior a qualquer cálculo participou das solenes celebrações públicas, em torno da monumental cruz erigida no cenário imponente dos Jardins de Palermo; 1.200.000 pessoas, 60% dos habitantes do “fogo anticlerical” que havia em Buenos Aires se aproximou da Eucaristia.
Foi uma afirmação pública da identidade cristã deste povo; foi um triunfo e uma surpresa para o clero e a hierarquia católica, que retomaram a coragem. Foi uma advertência para o anticlericalismo que se descobriu, improvisamente.
Nasceu a partir daquela “manifestação popular diante da Eucaristia” um plano pastoral global, que antes já havia sido esboçado parcialmente e agora relançado concretamente. Em reação à política de secularização, que explicitamente negava a dimensão institucional da fé, se determinou uma posição pastoral global: a “instituição da fé”. A Palavra, a liturgia e o testemunho caritativo deveriam ser incrementados particularmente nas suas dimensões institucionais. Assim, a Igreja poderia desenvolver melhor o seu dever de educadora da civilização.
Os objetivos da opção pastoral global foram especificados em três direções: «sacramentalizar, enseñar y gañar la calle». Aquele «gañar la calle» significava «ganhar as ruas», «ir ao povo». Se pedia ao clero e aos leigos cristãos de estar no meio da gente, de escutar, conhecer, de inserir-se no meio do povo, como apóstolos do pós-pentecostes, mais do que refugiados no cenáculo ou resignados, voltados à própria barca.


Dom Orione nos projetos da Igreja argentina

Neste clima, propício a possíveis e esperados progressos apostólicos, encontrou-se, conscientemente imerso, aquele padre vindo da Itália com fama de santidade e que experimentou particularmente as emoções do Congresso Eucarístico, para o qual chegara viajando no navio “Conte Grande”, junto com o Delegado papal o Cardeal Eugênio Pacelli, posteriormente Pio XII. Homem de ampla visão social, construtor de relações e de unidade eclesial mediante as obras de caridade para com os pequenos, os pobres, as humildes classes operárias, Dom Orione teve logo uma forte sintonia espiritual e apostólica com a sociedade argentina que não exitou em chamá-la de sua “segunda pátria”.
Tantas disposições ideais e práticas do santo Fundador de Tortona eram exatamente aquelas mais esperadas pelo momento histórico da Igreja da Argentina. “Fora da sacristia! Não perder de vista nem a Igreja, nem a sacristia, antes, o coração da Igreja está onde está a Hóstia... mas, com a devida cautela, é preciso lançar-se a um trabalho que não seja somente aquele que vocês fazem na Igreja” (Lettere II, 77). “Devemos promover uma autêntica obra de penetração cristã, especialmente entre o povo trabalhador, e trazer de volta à Igreja as classes humildes, as massas de trabalhadores tão sofridas”. (Scritti 94, 258). “É preciso obras de caridade: estas são a melhor defesa da fé católica. A caridade abre os olhos à fé e aquece os corações do amor para com Deus”. (Scritti 4, 278).
Numerosos bispos argentinos reconheceram em Dom Orione um fiel realizador daquela terceira disposição pastoral do «gañar la calle» (ganhar as ruas), que precisava de muita audácia, empreendimento, ação e santidade. Dom Orione encontrou tantas “portas abertas” e ajuda de todo tipo, certamente pela sua santidade, mas também ou até mesmo porque se inseriu no burburinho dos problemas, dos projetos e das expectativas da Igreja e do povo argentino.
Contemporaneamente, um outro fruto do Congresso Eucarísitico Internacional de 1934 se desenvolvia pela iniciativa dos Cursos de Cultura Católica, e marcadamente pelo seu presidente Tomás Nicolás Casares, famoso jurista, um dos maiores expoentes do laicato católico argentino. O objetivo dos cursos era a promoção de toda uma série de iniciativas formativas para favorecer o surgimento de intermediações cristãs no ambiente da cultura, da vida profissional, política, econômica.
Seja Casares, sejam seus principais colaboradores, estavam muito próximos a Dom Orione, de quem recebiam estima, idéias e encorajamento. Várias vezes convidaram Dom Orione para conferências sobre argumentos religiosos e sociais. Entusiasmava a todos falando de temas da Divina Providência, da Igreja e os pobres, da paixão e ação para o Renovamento cristão da sociedade. Ministrou por dois anos também um curso de retiros espirituais.
Dom Orione mostrava uma grande capacidade de crítica e de síntese. Se impunha também “pela sua erudição que permitia com que ele dialogasse com pessoas de alta cultura intelectual, assim como a sua caridade o tornava acessível aos seus mais humildes interlocutores” (Cuomo y Gallardo, Don Orione nuestro amigo, Victoria, 1967, p.76-77).


Jacques Maritain para um relançamento da cultura cristã

Quando se pensou em algum personagem de destaque a ser chamado à Argentina para apresentar a doutrina e os temas da cultura cristã, a atenção dirigiu-se para o famoso Jacques Maritain. Com um gesto que surpreendeu a todos, Dom Orione que pedia esmolas para as suas instituições sociais e caritativas quis contribuir com uma soma de dinheiro para financiar a viagem e a estadia do ilustre conferencista, considerando-a cara para aquela iniciativa de na caridade cultural.

Jacques Maritain chegou em Buenos Aires no dia 14 de agosto de 1936, acompanhado pela esposa Raïssa e pela cunhada Vera Oumanoff. Tinha publicado naquele ano o seu famoso “Humanismo integral”. Nas semanas seguintes, o ilustre filósofo ministrou um curso com aulas sobre “A pessoa humana” e um outro sobre “Gnoseologia e crítica do Conhecimento”. “A influência mais importante – observa Dom Octavio Nicolás Derisi – Maritain a exerceu através das suas conversas que se prolongavam por horas, seja na sede dos Cursos, seja no hotel ou em outras casas particulares”.

Tomás Casares, entre uma conferência e outra, acompanhou varias vezes Maritain, sozinho ou acompanhado da esposa Raïssa, a visitar Dom Orione na casa de: Calle Carlos Pellegrini, 1441. Os dois se entretinham em longas e cordiais conversas. Maritain foi visto algumas vezes ajudando as missas de Dom Orione na capela. “Vê-los e escutar o latim “italiano” de Dom Orione e o latim “francês” de Maritain era um espetáculo tão simpático quanto edificante”, recorda o Dr. Manuel Ordoñez.

Nos dois meses de permanência na Argentina, Jacques Maritain desenvolveu um intensivo programa de conferências que o levaram a Córdoba, Rosário, Montevidéu. Enfim, no dia 13 de outubro durante o ato de homenagem e de saudação, lhe foi conferido o título de “professor honorário”. Ele agradecendo, disse: “Se soubéssemos compreender convenientemente as realidades invisíveis, veríamos quão importante é para a cultura e para o País, uma escola de filosofia. De fato, o homem é um ser que vive da verdade como de pão”. (Raul Rivero de Olazabal, Por una cultura católica, Buenos Aires 1986, p.93). No ano seguinte, Maritain confidenciou em uma carta ao Dr. Manuel Ordoñez a sua pena e preocupação porque o seu livro “Humanismo integral” estava sendo acusado de pouca ortodoxia e estava para ser julgado no Santo Ofício. “Estou pronto a fazer o que a Santa Sé me ordenará. Dom Orione ainda está em Buenos Aires; diga-lhe que reze por mim, que Deus me dê a força de fazer bem o que devo fazer e que ilumine aqueles que devem examinar o texto”. Mais tarde a questão se resolveu bem em Roma. O mesmo Pio XI, uma vez tendo lido o livro, quis enviar ao autor uma carta de felicitações.

Reconstruindo esta página de vida que combina um grande filósofo, com um santo da caridade, em uma nação diferente da sua, a Argentina, se pensaria em um evento significativo sim, mas ocasional, restrito ao tempo. Seria um tanto limitado. Existe, de fato, nos relacionamentos uma espécie de metabolismo espiritual e cultural que produz novas sínteses e integrações destinadas a durar no tempo. Pelo menos no que diz respeito a Dom Orione, são claramente perceptíveis, influxos do filósofo francês em certas páginas de amplo respiro social e “político” dos seus últimos anos de retorno da Argentina.
A profundidade da compreensão mística do homem e da história, típica de Dom Orione, e o alcance da visão filosófica do pensador francês deram válidos frutos para a Igreja argentina. Certamente aquela paixão pelo homem, aquela encarnação e projetividade eclesial e social sem submissões e resignações, tão desejadas depois do Congresso Eucarístico Internacional de Buenos Aires, encontraram no santo inteligente e no inteligente santo um válido incremento.

 

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