A Congregação hoje è muito desenvolvida no Brasil. Os primeiros missionarios orionitas chegaron ao inicio do janeiro de 1914. Dom Orione mesmo visitou varias veces o Brasil, em 1921-1922 e em 1934-1937.
Se você, querido leitor, está pensando que o tempo não passou, desperte imediatamente. Passaram-se cem anos desde que os filhos de São Luís Orione tocaram as terras brasileiras. Mais ainda, eram as primeiras expedições missionárias do grande santo da caridade que sentiu, desde menino, a necessidade de servir a Igreja, seus pobres e suas gentes distantes. O ardor missionário de nosso santo fundador abrasou o coração de seus filhos e filhas que, muito cedo, partiram para terras longínquas para anunciar o Evangelho.
É preciso voltar no tempo para considerar que partir em missão “ad gentes” era um ato de coragem. Atravessar milhas de oceanos exigia dias e meses de viagem; viver num mundo pouco conhecido, com hábitos diferentes era um gesto grandioso de fé. Muito mais, anunciar Jesus Cristo era uma chama vital que alimentava o crescimento da Igreja. Neste espírito, vieram nossos primeiros padres, religiosos e freiras. Muitos tocaram estas terras e jamais voltaram à sua terra natal, aos seus lares. Esta história de heroísmo, humildade e amor merece ser inscrita em nossos corações.
Neste exercício da memória busquemos no Santo dos pobres, São Luís Orione, a força inspiradora das missões. Suas palavras são um programa de vida: “Trabalhar na instrução e na educação dos menores mais necessitados, ser padres no meio do povo mais pobre.”
Madre Michel é o primeiro nome a ser citado. Suas religiosas vieram para o Brasil em 1900, animadas pelo neo-sacerdote Pe. Luís Orione. Ele quer enviar seus missionários. A insistência desta Fundadora é muito grande.
Os filhos dos imigrantes italianos e suas famílias necessitam urgente da Palavra de Deus, dos sacramentos e do apoio social e moral para suas famílias. A situação das famílias sem moradia, sem cuidados de saúde e expostas a doenças como tifo, malária e febre amarela criou um verdadeiro drama. Os missionários precisavam socorrer e evangelizar a grande quantidade de imigrantes. Naqueles anos - entre 1870 e 1920 - vieram mais de três milhões de imigrantes europeus, dentre estes muitos italianos.
Padre Vitório Gatti esteve no Brasil e sondou o ambiente nas terras paulistanas. O terreno estava sendo preparado. Em 1915, consultou o Conde Azevedo para abrir uma obra missionária e caritativa na região do Ipiranga.
Não era ainda o momento, mas a semente estava sendo preparada para a sementeira missionária orionita ser plantada em terras brasileiras.
O PRIMEIRO CANTEIRO ORIONITA NO BRASIL
Pe. Francisco dei Gáudio, pároco de Mar de Espanha, insiste com Mons. Capra, o assistente espiritual das Religiosas da Madre Michel, para que Padre Luís Orione envie seus religiosos para Mar de Espanha. Além disso, Dom Silvério Pimenta insiste pessoalmente junto a Dom Bandi, bispo de Tortona e protetor da família orionita, para que permita o empreendimento missionário.
Estamos para iniciar a tão esperada missão. São três os grandes missionários: um padre, Carlos Dondero, um religioso - Ir. Carlos Germano e um leigo - Sr. Júlio. Deixam Gênova, o grande porto italiano em 1913, no final do ano. Chegam a Mar de Espanha em meados de janeiro de 1914. Assumem o INSTITUTO BARÃO DE SÃO GERALDO, com o compromisso de abrir uma escola primária e secundária, assim como uma Colônia Agrícola. Os Filhos espirituais de Dom Orione vieram para servir. Inspirados nos ideais de Dom Silvério Pimenta, acolhem os filhos dos escravos, que foram enxotados das grandes fazendas e despejados cruelmente nas periferias das metrópoles.
Dom Orione ouvia silenciosamente a voz dos indígenas, que clamavam por sobrevivência. Seu sonho de abrir uma frente missionária em Campo Grande não se realizou e foi curta a permanência dos orionitas em terras capixabas. Mas este sonho se concretizou, quando muitos orionitas - padres e irmãs - assumiram diversas atividades (paróquias, orfanatos e escolas paroquiais) no Tocantis, terra de grande pobreza no Brasil Central.
No Rio de Janeiro, os orionitas assumiram a Casa da Preservação (1921), dedicada às populações afro-descendentes. Por vários anos, se dedicaram, como pais amorosos, a centenas de crianças. Igualmente realizou-se a missão em Niterói. Pe. Angelo de Paoli, Pe. Francisco Casa e Pe. Ballino se dedicam a essa missão.
A família orionita aos poucos vai desbravando novas frentes missionárias.
PADRE LUÍS ORIONE NO BRASIL
Quando chegou ao Brasil, sua primeira visita foi no Rio de Janeiro. Em agosto de 1921, encontra-se com o Cardeal Arcoverde e Dom Leme, bispo auxiliar. Sua missão é Mar de Espanha, onde visita seus filhos em missão. Em 1922, visita igualmente Dom Silvério, em Queluz, atual Conselheiro Lafaiete (MG), o qual lhe solicita a formação de uma Congregação para religiosos e padres oriundos da África. Tendo ficado aproximadamente três meses no Brasil, envolveu-se com a realidade local, percebendo a necessidade de enviar missionários.
No Natal de 1921, Padre Luís Orione,apesar de enfermo, celebra com a comunidade e fica impressionado com o ardor dos fiéis, bem como com a probreza daquela gente. Seus cuidados médicos e fraternos foram feitos por Padre Camilo Secco, da comunidade missionária local.
Na sua volta para a Itália, Dom Orione passa por São Paulo. Visitou o Cardeal Dom Duarte, algumas localidades no Ipiranga e manteve contatos com os Padres Carlistas e as Irmãs de Madre Michel. No período, vai ser iniciada a sua obra no Bairro do Bixiga (1921), onde hoje está a Paróquia Nossa Senhora Achiropita. A Paróquia foi entregue aos orionitas em 1925 . Em 1924, iniciou a missão na Gávea, com curso profissionalizante e internato para os filhos de italianos, portugueses e escravos.
Em 1927, pelas mãos da Divina Providência, os missionários deixam Mar de Espanha e se espalham em outras localidades, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro. É o início de um novo tempo.
São Luís Orione voltou ao Brasil, ainda uma vez, em 1937, quando regressava de sua permanência na Argentina, onde ficara por três anos. Nesta ocasião, esteve no Rio de Janeiro e em São Paulo.
UM SANTO DEU O AR DE SUA GRAÇA NA ACHIROPITA
Celebrando o centenário, devemos sublinhar que São Luís Orione esteve entre nós e rezou em nosso templo. Existe um cantinho abençoado na Igreja Achiropita no qual o sacerdote se ajoelhou e rezou ardorosamente por nossa comunidade.
Este lugar é tão importante que erigimos um pequeno altar. Tem a simplicidade e a mística de nosso Santo.
Vamos recordar este capitulo importante no centenário missionário orionita.
Em 1921, quando esteve no Brasil por aproximadamente 3 meses, o padre Luís Orione esteve particularmente no Rio de Janeiro, onde desembarcou e permaneceu em Mar de Espanha onde estavam seus missionários, dedicando suas vidas numa Escola, dentro de uma Colônia Agrícola. Antes de voltar para a Itália, esteve na cidade de São Paulo. Nesta cidade, teve contatos importantes, especialmente com os Padres Carlistas, que acolhiam os órfãos na região do Ipiranga, no Orfanato Cristóvão Colombo. A presença dos Padres do Monsenhor Scalabrini (Missionários de São Carlos) junto aos imigrantes italianos inspirava o Santo de Pontecurone. O contato com o Conde Azevedo, - que tinha grande interesse em socorrer as crianças pobres da cidade que crescia vertiginosamente naquele período de industrialização - também ia ao encontro dos sonhos de caridade de Orione. Notava-se a urgência de socorrer os filhos órfãos de imigrantes dizimados pela febre tifoide, malária e doenças tropicais, mas igualmente os filhos de escravos encarcerados nas periferias da cidade que engrossava assustadoramente.
Dom Duarte, então cardeal de São Paulo, solicita que a presença orionita se faça distante das regiões do Ipiranga, Mooca, Glicério, Cambuci e Brás, pois já existem muitas congregações religiosas, entre elas as Filhas de Madre Michel.
Foi entregue aos orionitas, então, os cuidados de uma pequena capelinha na Chácara do Bexiga. Segundo a tradição era um pequeno proprietário que possuía terrenos perto do Riacho do Saracura, hoje sob a pavimentação da Avenida 9 de julho.
Nesta região do Bexiga, atual Bela Vista, os missionários de São Luís Orione asusmiram a Capela de São José, que depois tomou-se a Paróquia Nossa Senhora Achiropita.
Na década de 30, precisamente no ano de 1937, quando o Padre Luís Orione passa pela cidade, na sua volta da Argentina para a Itália, ele visita a nova Igreja.
Era o templo definitivo, que substituirá duas capelas anteriores demolidas na ocasião. Como os imigrantes vieram de Rossano Cálabro, sul da Itália, implanta-se a devoção a Nossa Senhora Achiropita, padroeira daquela cidade. Assim, a Igreja é erigida no estilo bizantino, devido a influência da Igreja ortodoxa naquela região italiana. Hoje está entre uma das igrejas mais formosas da arquitetura religiosa paulistana.
Essa igreja acolheu o ar da graça e a graça da prece de nosso amado São Luís Orione
CENTENÁRIO E TANTOS FILHOS
Os orionitas marcaram esta história profundamente. O primeiro pároco foi o Padre Carlos Alferrano, que trabalhou nestes lugares por vários anos. Depois dele, vieram tantos padres que fizeram a história desta paróquia, com sua evan- gelização, suas festanças e sua caridade.
Os filhos de São Luís Orione - padres, irmãos, freiras e leigos - se espalharam pelo Brasil, em tantos estados e muitas cidades, levando ao povo sua devoção e seu carisma.
Os orionitas, que chegaram no Brasil em 1913, estão celebrando seu centenário. São cem anos de evangelização dos mais pobres, de acolhida dos povos afros, indígenas e nordestinos.
São cem anos de caridade aos pobres, aos órfãos, aos idosos e deficientes.
São cem anos de missão, de paróquias, de escolas e de serviço ao povo de Deus. Um centenário de fé e evangelização.
Celebremos com louvações estes anos maravilhosos e que venham novos tempos, para que a família orionita possa celebrar tantos outros centenários. O Reino de Deus é infinito.
Depois de sua morte, concretizou-se sua profecia, proferida do alto do Corcovado: “o que não fiz pelo Brasil na terra, farei do paraíso”.
Seus padres e religiosas assumiram casas no sul do Brasil, sobretudo entre os italianos de Santa Catarina e Paraná, no interior de São Paulo e Minas, particularmente entre caipiras e negros e entre os cablocos no Goiás. Sua missão tomou-se um grande canteiro de preciosas obras de caridade, de educação e de evangelização.
Finalmente, cem anos que parecem um instante, tão depressa passaram. Um centenário que parece uma eternidade, tantas maravilhas foram realizadas!
Pe. Antônio S. Bogaz, orionita GEO - Grupo de Estudos Orionita